segunda-feira, 30 de julho de 2012

Stress Paulista



Alan, um amigo de João Pessoa que morou muitos anos em Salvador, veio se despedir quando soube que eu viajaria para lá. Sempre sorridente e boa praça, não perdeu a chance de me dar algumas dicas de como “sobreviver” na Bahia.

— Meu amigo, na praia, barganhe tudo! — começou ele animado.
— Mas eu não vou à praia — respondi, já avisando.
Ainda assim, ouvi com atenção.

— Se te oferecerem queijo coalho, peça com orégano.
— Cuidado com o camarão, só em lugar de confiança. Na praia, nem pensar.
— Olha... Os acarajés, abarás, vatapás e carurus são maravilhosos, mas têm muita pimenta.
— E o mais importante: fuja das roskas da praia. No hotel a vodca é mais confiável.

— Tá certo, Alan. Mas eu não vou à praia!

Despedimo-nos. Ele foi embora. Eu fui pra Bahia.

No aeroporto de Salvador, quem me buscou foi um italiano de Gênova, sotaque carregado e simpatia de sobra. Tentou me vender seus passeios:

— Praia do Flamengo, barraca do Lôro, Praia da Pipa...

— Obrigado, mas eu não vou à praia.

Ele insistiu, falando de Itapuã, da Barra, das ondas para o surfe e dos esportes radicais.

— Eu entendi... Mas eu não vou à praia!

Na pousada, o recepcionista — outro italiano — me recebeu todo sorridente:

— Bem-vindo à Praia do Flamengo. Mar lindo, muitos coqueiros, ótimas ondas...

— Obrigado, mas eu não vou à praia.

Já no quarto, a camareira, atenciosa:

— Está tudo certo? Aproveite nossas lindas praias!

— Sim... mas eu não vou à praia.

Deitei. Liguei a TV. Peguei uma cerveja no frigobar. Um repórter local entrevistava um banhista, que dizia animado:

— A semana promete! Pegue uma cerveja gelada, vá à praia. Afinal, você está na Bahia!

Olhei a TV, olhei a cerveja. Guardei a cerveja de volta. Olhos fixos na tela, só consegui dizer:

— Eu não vou à praia!

Desliguei a TV. Peguei um jornal. Primeira página: foto de alguém sorrindo e um título em letras garrafais:

"Vá à praia hoje e curta o show do Moska!"

Foi o estopim.

Calcei as chinelas, desci à recepção e pedi um carro. A recepcionista, radiante, perguntou:

— O senhor vai...

Interrompi:

— Vou à praia. Comer camarão, caruru, acarajé, tomar roskas, ir na barraca do Lôro, queijo coalho com orégano e tudo mais que essa Bahia linda tiver!

Ela, assustada, gaguejou:

— Vai... vai pagar com cartão ou dinheiro?

É. Foi mal. Coisa do stress de São Paulo.

Mas eu fui à praia.

Adivinha o que me disseram assim que cheguei?

— Vá ao Bonfim! É lindo!

Pronto... começou tudo de novo.






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