Alan, um amigo de João Pessoa que morou
muitos anos em Salvador, veio se despedir quando soube que eu viajaria para lá.
Sempre sorridente e boa praça, não perdeu a chance de me dar algumas dicas de
como “sobreviver” na Bahia.
— Meu amigo, na praia, barganhe tudo! — começou ele animado.
— Mas eu não vou à praia — respondi, já avisando.
Ainda assim, ouvi com atenção.
— Se te oferecerem queijo coalho, peça com orégano.
— Cuidado com o camarão, só em lugar de confiança. Na praia, nem pensar.
— Olha... Os acarajés, abarás, vatapás e carurus são maravilhosos, mas têm
muita pimenta.
— E o mais importante: fuja das roskas da praia. No hotel a vodca é mais
confiável.
— Tá certo, Alan. Mas eu não vou à praia!
Despedimo-nos. Ele foi embora. Eu fui pra Bahia.
No aeroporto de Salvador, quem me buscou foi um italiano de
Gênova, sotaque carregado e simpatia de sobra. Tentou me vender seus passeios:
— Praia do Flamengo, barraca do Lôro, Praia da Pipa...
— Obrigado, mas eu não vou à praia.
Ele insistiu, falando de Itapuã, da Barra, das ondas para o
surfe e dos esportes radicais.
— Eu entendi... Mas eu não vou à praia!
Na pousada, o recepcionista — outro italiano — me recebeu
todo sorridente:
— Bem-vindo à Praia do Flamengo. Mar lindo, muitos
coqueiros, ótimas ondas...
— Obrigado, mas eu não vou à praia.
Já no quarto, a camareira, atenciosa:
— Está tudo certo? Aproveite nossas lindas praias!
— Sim... mas eu não vou à praia.
Deitei. Liguei a TV. Peguei uma cerveja no frigobar. Um
repórter local entrevistava um banhista, que dizia animado:
— A semana promete! Pegue uma cerveja gelada, vá à praia.
Afinal, você está na Bahia!
Olhei a TV, olhei a cerveja. Guardei a cerveja de volta.
Olhos fixos na tela, só consegui dizer:
— Eu não vou à praia!
Desliguei a TV. Peguei um jornal. Primeira página: foto de
alguém sorrindo e um título em letras garrafais:
"Vá à praia hoje e curta o show do Moska!"
Foi o estopim.
Calcei as chinelas, desci à recepção e pedi um carro. A
recepcionista, radiante, perguntou:
— O senhor vai...
Interrompi:
— Vou à praia. Comer camarão, caruru, acarajé, tomar roskas,
ir na barraca do Lôro, queijo coalho com orégano e tudo mais que essa Bahia
linda tiver!
Ela, assustada, gaguejou:
— Vai... vai pagar com cartão ou dinheiro?
É. Foi mal. Coisa do stress de São Paulo.
Mas eu fui à praia.
Adivinha o que me disseram assim que cheguei?
— Vá ao Bonfim! É lindo!
Pronto... começou tudo de novo.
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