No retorno de uma viagem à Bahia, como sempre, planejei tudo com muito cuidado. Mas, como de costume, nem tudo saiu como o planejado.
Quem leu o texto "Voo apertado" já sabe que, antes mesmo da ida, tive que lidar com a “solidariedade” de amigos bem-intencionados tentando me animar sobre o voo. Pois bem... Apertem os cintos. Esse é o retorno.
Quer dizer, quase tudo, como sempre. Assim que confirmei o voo de volta, parece que o universo conspirou pra me dar spoilers. Um desfile de pessoas começou a me alertar, como se estivessem combinadas, sobre a companhia aérea que eu havia escolhido. A primeira foi uma colega:
— Ah, não vai pela aquela companhia dos comerciais, hein? Péssima!
Já no aeroporto o taxista que me levou,
fez questão de me alertar para não viajar pela mesma companhia, a mesma da
colega. Nem perguntou qual era a que eu embarcaria, apenas disse:
— Olha meu amigo, vou lhe dar um
conselho: nunca viaje por uma tal companhia. É um desastre.
Adivinha qual era a companhia do meu
voo? Ela mesma. A lendária, temida, falada companhia alertada pela colega.
Bem, apesar dessas orientações “coincidentes”,
como já havia comprado o voo mesmo, comecei a reparar em cada detalhe da nave. Confesso
que se tivesse uma chave de fenda a mão, apertaria qualquer parafuso que
surgisse a minha frente.
Meus olhos de águia tudo viu, quando de
óculos é claro. Logo de entrada notei uma poltrona com o rasgo no encosto.
Pronto, meu coração acelerou.
Sentei-me no meu lugar e logo senti o
braço da poltrona com jogo, meio solto. Prendi o cinto, chequei tudo, respirei
fundo e... relaxa.
Foi aí que começou a confusão.
Um passageiro ocupava o lugar errado,
outro exigia sentar-se na janela, mesmo sem direito. Foi um tal de senta e
levanta sem fim. Um bebê não parava de chorar, berrava a plenos pulmões. Ao meu
lado, um senhor pálido e trêmulo me encarava como quem vai passar mal. Sério.
Eu já me preparava pro pior.
As comissárias, já no limite da
paciência, imploravam para que todos se sentassem.
— É muito simples, gente. Vejo o número
da poltrona no bilhete, senta nela, fim!" — disse, irritado, meu colega de
assento.
Doce ilusão.
Um minuto depois, outro passageiro
chegou próximo dele e disse:
– Desculpe senhor, esse lugar é meu.
Meu colega de poltrona também tinha
errado. Lá fui eu levantar mais uma vez. Respirei fundo. Sorri por fora, chorei
por dentro. Meu Deus!
Depois de mais algumas reacomodações,
finalmente decolamos.
Tudo parecia seguir tranquilo. Já
sobrevoávamos Vitória da Conquista quando senti... uma vontade. Uma daquelas
vontades inadiáveis. Precisava ir ao banheiro.
Levantei-me com muito cuidado e fui tranquilamente
ao banheiro. As comissárias sorriram... Estava tudo bem.
Enquanto iniciava o esvaziamento da
bexiga, senti o avião começar a tremer. Do alto-falante, o comandante avisou:
— Senhores passageiros, por favor
permaneçam sentados. Teremos uma breve turbulência. Tripulação preparem-se.
O homem anda a 300 Km/h nos céus e
ainda não tem noção do que é rápido. Foi a turbulência mais longa de toda minha
vida.
Já estava com o zíper aberto e
urinando, quando começou a balançar tudo. Já de início fui com as costas na
porta do banheiro, muito difícil acertar o vaso sanitário assim, foi tudo pela
parede, pia e chão. Tentei me segurar na caixa do papel e começou a sair muito
papel em tiras, caindo pelo chão.
Novo solavanco. Agora fui arremessado
para frente — direto com as “partes baixas” no vaso sanitário. Juro que o "Ai!"
que dei ecoou até Vitória da Conquista. Com tudo ainda à mostra, tentei me
reerguer. Me agarrei a uma alavanca e... clic!
Abri a porta.
Sim, com o avião sacudindo, a porta do
banheiro parcialmente aberta, papel higiênico voando, e eu — de calças
arriadas. Segurei a porta com todas as forças, impedindo que o escândalo fosse
maior.
Depois de uma eternidade, a turbulência
cessou. Olhei sorrateiramente para fora. Uma comissária vinha em minha direção.
Guardei tudo no lugar, juntei os papéis pro canto e joguei tudo na lixeira e
quando ela chegou, já estava lavando as mãos.
— Tudo bem, senhor?
— Tudo perfeito, obrigado. — respondi, enquanto
saía do banheiro, tentando parecer digno, sob o olhar de quase 100 passageiros,
alguns ainda com cara de assustados.
Caminhei até meu assento, tentando
parecer invisível. Foi quando ouvi a comissária dizer:
— Senhor, o senhor está arrastando um papel higiênico preso no sapato.
Te pergunto: você pararia pra tirar?
Eu não.
Acelerei o passo e me joguei no assento
com a dignidade de quem perdeu tudo, menos o humor. Baixei a cabeça, morrendo
de vergonha. Ao meu lado, o velhinho — aquele que parecia à beira da morte — me
olhou, abriu um sorriso com seus três dentes e soltou um:
— He, he, he.
Impressionante. Essas coisas só
acontecem comigo.
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