sábado, 14 de julho de 2012

Voo apertado.


Sempre digo aos meus amigos que não temo nada deste mundo. Que minha fé basta para me manter tranquilo. Mas, como acontece com tudo que é dito em voz alta, sempre tem alguém disposto a desafiar as nossas palavras, nossos princípios e, claro, a nos fazer questionar as nossas certezas.

Enquanto este post estiver sendo publicado, provavelmente estarei sobrevoando Minas Gerais, a caminho de Salvador, na Bahia. Quando comentei com os amigos sobre essa viagem, um deles logo começou a desfiar um rosário de motivos para não viajar de avião. Falou até de Ritchie Valens e do filme La Bamba. Um argumento bem fraquinho para me deixar apreensivo.

Outro se lembrou da velha história da sexta-feira 13 e suas superstições. Mas, vamos lá, eu viajo no dia 14, um sábado. Nada a temer, certo?

Agora, um amigo realmente me fez parar para pensar. Ele contou sobre uma viagem que fez para Mato Grosso. Nada demais, eu também já fui para lá – uma viagem curta e rápida. O problema, no entanto, não estava no voo em si.

Quando o piloto anunciou os preparativos para a aterrissagem, ele, do nada, sentiu uma necessidade urgente de ir ao banheiro. Um problema completamente alheio ao aviso do piloto, claro, mas a comida salgada que ele havia comido antes do voo parecia estar se revoltando com ele.

Levanta-se apressado e, como não poderia deixar de ser, a comissária de bordo foi ao seu encontro, pedindo educadamente que ele se sentasse e se preparasse para a aterrissagem. Surpreso, ele obedeceu. Mas a vontade era mais forte, e, assim que se sentou, levantou novamente. E lá vem a comissária de novo, pedindo com firmeza que ele se acomodasse.

"Preciso ir ao banheiro!", ele disse, já começando a suar frio. Ela, com uma paciência que só as comissárias de bordo têm, explicou que, naquele momento, não era possível. Ele, com um pouco de vergonha, disse baixinho que estava se sentindo mal e realmente precisava ir ao banheiro.

Foi quando a voz do piloto anunciou a autorização para aterrissagem. A comissária olhou bem nos olhos dele e, com um sorriso que mais parecia um desafio, disse: "Sente-se, por favor."

E ele, sem opção, se sentou.

Quando o avião finalmente tocou o solo, a comissária, sorridente, lhe disse que agora ele poderia ir ao banheiro. E ele, todo constrangido, respondeu: "Agora já é tarde."

A história me fez rir, mas também me deixou inquieto. Lembrei de uma vez em que vi uma situação parecida numa viagem de ônibus para Curitiba. O que, no começo, parecia uma história engraçada, logo virou uma lembrança desconfortável.

Os outros amigos, claro, não perderam a chance de fazer piadas e sugeriram que eu levasse uma fralda geriátrica para a viagem. Eu, com minha fé inabalável e a certeza de que a vida é uma simples passagem, ri e respondi: "Melhor passar por aqui e sair cheiroso, né? Melhor dar uma maneirada na alimentação também... Mas fralda geriátrica? Palhaçada."

E assim, entre risos e piadas, a viagem segue tranquila, com a certeza de que, no fim, o que nos importa mesmo é a fé e a boa disposição para enfrentar o que vem pela frente.



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