63,8 Km |
Já no inicio da minha caminhada, dei sorte. Passando por São José dos
Campos, consegui carona com um homem que dirigia um carro novo, azul, indo para
Taubaté. Buzinou o carro mais a frente e ficou me observando pelo retrovisor
enquanto me aproximava pela sua direita.
O cumprimentei com um sorriso no rosto, enquanto ele abria aporta,
agradeci.
Carlos estava indo pra Taubaté, era representante comercial, vendia
produtos alimentícios.
Muito bom de prosa como todo bom vendedor, me contou como começou nessa
profissão, as dificuldades para conseguir uma carteira de clientes que hoje se
orgulha muito, chamando-os de amigos comerciais.
Começou ainda novo, trabalhando com um tio vendendo carimbos para
profissionais liberais. Contou-me rindo do medo que tinha de entrar num
consultório médico e oferecer seus carimbos. Sempre parava na frente de um
local e ficava esperando a coragem chegar, após observar o entrar e sair de
diversas pessoas. Suando entrava e descobria que o proprietário acabara de
sair. Ficava aliviado, mas sabia que não venderia nada.
Como não deu certo tentou vender filtros para água. Com um gargalhar
hilário, disse que esse trabalho também não deu certo e foi por água abaixo.
De repente, ficou sério me olhou nos olhos, disse que a coisa ficou feia
de vez e já não tinha o que comer, passava com um pão com manteiga e café, que
ganhava nas visitas que marcava pra vender. Enxugou o suor e disse que um dia
percebeu que já vivia assim, estava habituado a comer quase nada e tomar cafés
nas visitas.
Então de repente encostou o carro lentamente na
direita da rodovia e me olhou com os olhos lacrimejados confessando que chegou
ao fundo do poço, que não via mais saída. Respirou fundo, se acalmou e
ligou o carro novamente retornando à pista.
Ainda muito sério, disse que numa noite voltando para casa, casa do primo
que morava de favor por não conseguir pagar uma pensão, viu uma luz azul em
cima de um prédio velho e se aproximou. Na porta de entrada tinha um cartaz
meio desgastado dizendo:
"Precisa-se de vendedor com fome".
Pensou por um momento, disse pra si mesmo: "Sou eu" e entrou.
A iluminação das escadas era ruim e não havia corrimão, mas ainda assim
subiu até o fim. No final das escadas num pequeno escritório com apenas uma
escrivaninha estava sentado um senhor escrevendo, que parou imediatamente ao vê-lo. Ele se levantou e o cumprimentou. Com certeza era o proprietário.
Conversaram até tarde e fecharam negócio. Ele era um representante de um
novo produto alimentício que chegava à cidade e precisava de um vendedor
dinâmico com celular, que conhecesse a cidade para divulgar o produto. Depois de
se conhecerem, trocarem história e experiências de vida, acertou um salário
fixo e Carlos até conseguiu ajuda para comprar o telefone, pois não tinha.
Não teve duvidas, assumiu o novo emprego. Ao descer as escadas
entusiasmado pensou, seria o mais aplicado entre todos os vendedores que
conhecera ou que trabalhava para aquele senhor. Parou, olhou o cartaz e o releu, "Precisa-se vendedor com
Fone", sorriu e o retirou da parede, olhou para o alto e procurou a luz
azul. Ela não estava mais lá.
Dai pra frente tudo mudou e conseguiu sua casa, seu carro e tem uma
linda família. Enquanto descia do carro na Rodovia, continuando dali minha
caminhada ele mostrou a foto de sua família e perguntou:
- Sabe qual o nome desse
carro? Luz Azul.
Sorrindo, se afastou em direção a cidade, enquanto eu olhando para o céu
azul sorri balançando a cabeça afirmativamente.
Fiquei por ali e lá fui eu, rumo à minha Dulcinéia.
Feliz luz azul.
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