sexta-feira, 8 de junho de 2012

Feriado I - A espera na rodoviária.

Ele estava na rodoviária aflito, andando de um lado para outro de olho no enorme relógio verde dependurado sob o balcão de informações. Parecia que também o relógio o olhava e, só para dificultar as coisas, segurava o máximo possível os ponteiros para irem se movimentando lentamente. Parecia poder ouvir as engrenagens se recusando a mexer.

Ela estava para chegar a qualquer momento. O ônibus estava no horário, já confirmara diversas vezes no mesmo balcão onde o relógio com certeza ria dele e a essa altura dos acontecimentos, o pessoal de atendimento já o chamava pelo primeiro nome.

Voltou-se novamente para o portão de desembarque e ficou a observar cada pessoa que por ele passava. Senhores, senhoras, crianças, casais, todos felizes se dirigiam para receber os abraços de quem os esperava.

Tentou ligar a ela mais de vinte vezes e só chamava, ninguém atendia. Onde ela estaria? Com certeza próxima, talvez numa área sem cobertura do celular. Só pode ser isso.

Novo desembarque e nada. 

As pessoas que chegavam passavam por ele, até um pouco assustadas diante de sua aparente expressão, ansiosa e nervosa, mas... nada dela aparecer.

Já estava a quase três horas na rodoviária, resolverá vir mais cedo para acaso se o ônibus adiantasse, não ficaria perdida naquela imensidão da rodoviária. Ela se sentiria sozinha e perdida, não poderia deixar isso acontecer.

Ele deveria ter comprado flores para entregar em sua chegada, mas deve ter achado muito comum e ela, com certeza, não era assim, não era comum. Ela era especial. Não... Nada de flores, também nervoso como estava com certeza, não sobraria uma única pétala nas rosas, de tanto que tremia.

Mais um ônibus chegando e encostando para desembarque. Esfregou as mãos nervosas e chegou o mais perto possível da grade que separa os recepcionistas dos viajantes saudosos a espera dos entes queridos como ele, e então conseguiu ler o itinerário: "Jequié, Jaquié", Ja, Je, alguma coisa... Não era o dela, ela não morava em "Jaq" alguma coisa.

Enquanto enfiava e tirava a mão dos bolsos pela milésima vez, uma atendente do balcão o chamou e disse; " — Senhor, seu ônibus está entrando na rodoviária". Quase seu coração parou... O suor começou a descer no rosto. Tanto que a mesma atendente foi levar-lhe uma água para acalmá-lo, parecia que todos estavam como ele, nessa expectativa. Era só olhar em volta e todos sorriam, como que dizendo: "— Calma, ela chegou meu amigo".

Viu o ônibus amarelo vir devagar, encostando, não dava para ler o itinerário, mas foi só olhar para o balcão de informações e três dos atendentes confirmaram sorridentes.

Começou a aparecer os viajantes e descer um a um. Não... não... também não. Até que passou o último... ela não veio e o motorista já começava a manobra para recolhimento do carro.

Todos olharam para ele e o viram ir dobrando as pernas vagarosamente, agachando e baixou a cabeça prendendo-a entre as mãos.

Algumas pessoas se aproximaram e o cercavam para consolá-lo, quando escutaram entre eles um sotaque diferente com um tom sonolento... "— Oi amor, dormi no ônibus e me esqueceram lá, tudo bem? Nossa! Quantos amigos você trouxe para me receber..."

Já ouviram falar do famoso sorriso de lado a lado? Sim, daquele que dizem que os cantos se encontram na nuca.

Pois bem, neste dia eu vi, ele existe mesmo.

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