Ele estava na
rodoviária aflito, andando de um lado para outro de olho no enorme relógio
verde dependurado sob o balcão de informações. Parecia que também o relógio o
olhava e, só para dificultar as coisas, segurava o máximo possível os
ponteiros para irem se movimentando lentamente. Parecia poder ouvir as
engrenagens se recusando a mexer.
Ela estava para chegar a qualquer
momento. O ônibus estava no horário, já confirmara diversas vezes no mesmo
balcão onde o relógio com certeza ria dele e a essa altura dos acontecimentos,
o pessoal de atendimento já o chamava pelo primeiro nome.
Voltou-se novamente para o portão de
desembarque e ficou a observar cada pessoa que por ele passava. Senhores,
senhoras, crianças, casais, todos felizes se dirigiam para receber os abraços
de quem os esperava.
Tentou ligar a ela mais de vinte vezes
e só chamava, ninguém atendia. Onde ela estaria? Com certeza próxima, talvez
numa área sem cobertura do celular. Só pode ser isso.
Novo desembarque e nada.
As pessoas que chegavam passavam por
ele, até um pouco assustadas diante de sua aparente expressão, ansiosa e
nervosa, mas... nada dela aparecer.
Já estava a quase três horas na
rodoviária, resolverá vir mais cedo para acaso se o ônibus adiantasse, não
ficaria perdida naquela imensidão
da rodoviária. Ela se sentiria sozinha e perdida, não poderia deixar isso acontecer.
Ele deveria ter comprado flores para
entregar em sua chegada, mas deve ter achado muito comum e ela, com certeza,
não era assim, não era comum. Ela era especial. Não... Nada de flores, também
nervoso como estava com certeza, não sobraria uma única pétala nas rosas, de
tanto que tremia.
Mais um ônibus chegando e encostando
para desembarque. Esfregou as mãos nervosas e chegou o mais perto possível da
grade que separa os recepcionistas dos viajantes saudosos a espera dos
entes queridos como ele, e então conseguiu ler o itinerário: "Jequié,
Jaquié", Ja, Je, alguma coisa... Não era o dela, ela não morava em
"Jaq" alguma coisa.
Enquanto enfiava e tirava a mão dos
bolsos pela milésima vez, uma atendente do balcão o chamou e disse;
" — Senhor, seu ônibus está entrando na rodoviária". Quase seu
coração parou... O suor começou a descer no rosto. Tanto que a mesma atendente
foi levar-lhe uma água para acalmá-lo, parecia que todos estavam como ele,
nessa expectativa. Era só olhar em volta e todos sorriam, como que dizendo:
"— Calma, ela chegou meu amigo".
Viu o ônibus amarelo vir devagar,
encostando, não dava para ler o itinerário, mas foi só olhar para o balcão de
informações e três dos atendentes confirmaram sorridentes.
Começou a aparecer os viajantes e
descer um a um. Não... não... também não. Até que passou o último... ela não
veio e o motorista já começava a manobra para recolhimento do carro.
Todos olharam para ele e o viram ir
dobrando as pernas vagarosamente, agachando e baixou a cabeça prendendo-a entre
as mãos.
Algumas pessoas se aproximaram e o
cercavam para consolá-lo, quando escutaram entre eles um sotaque diferente com
um tom sonolento... "— Oi amor, dormi no ônibus e me esqueceram lá, tudo
bem? Nossa! Quantos amigos você trouxe para me receber..."
Já ouviram falar do famoso sorriso de
lado a lado? Sim, daquele que dizem que os cantos se encontram na nuca.
Pois bem, neste dia eu vi, ele existe
mesmo.
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