Era o terceiro dia de um feriado
prolongado, desses que chegam como presente. Minha ideia era simples:
descansar, receber amigos e encerrar com um bom churrasco no domingo. A chuva,
que havia castigado a quinta e a sexta-feira, finalmente deu uma trégua, e eu
decidi aproveitar o sábado para mostrar a cidade ao meu grande amigo Nokoko.
Ele tinha vindo de longe, rodado muitos quilômetros para nos
visitar, conhecer meu cantinho no mundo e, claro, ser apresentado à minha
noiva. Como o tempo ruim nos manteve reclusos, passamos os primeiros dias no
aconchego do lar, entre pizzas, pipocas e maratonas de Supernatural.
Rimos tanto que parecia que tínhamos voltado no tempo.
Mas o sábado amanheceu com sol, e com ele veio a vontade de
sair. Resolvemos almoçar fora e, de quebra, fazer um tour pela cidade. Nokoko e
eu temos essa conexão musical que atravessa os anos, então fizemos o passeio
cantando alto dentro do carro, como dois adolescentes empolgados com os
clássicos do rock.
Fui guiando e apresentando: a prefeitura, o parque, o
Mercado Municipal. Quando chegamos à praça da matriz, resolvi estacionar.
Descemos, caminhamos um pouco e nos sentamos num banco. O clima estava
perfeito. Crianças correndo, famílias aproveitando o dia, vendedores
animados... aquela alegria simples de cidade pequena em dia de sol.
Nokoko quis provar algo típico e saiu para comprar uma
pipoca com queijo. Enquanto isso, fiz uma ligação — queria preparar uma
surpresa para ele. Detalhe importante: apesar do nome exótico, Nokoko não tem
nada de oriental. É um típico alemão: baixo, forte e de olhos azuis. O apelido
vem do tempo em que éramos rádio-amadores, e ficou.
Ele voltou com a pipoca, elogiando a cidade, encantado com a
tranquilidade. Ficamos ali, jogando pipoca para os pombos, conversando sobre a
vida, quando eu pedi que ele esperasse só mais um pouco. A surpresa estava
chegando.
Foi então que ele ficou sério, apertou meu braço e apontou
para uma mulher que vinha caminhando na nossa direção:
— Tá vendo aquela ruiva de branco? Essa é a lembrança que
minha mãe adoraria que eu levasse pra casa.
Olhei. Engasguei. Soltei um ruído estranho, seguido de uma
tosse desesperada. A pipoca voou. Nokoko, assustado, tentou me ajudar com
tapinhas nas costas. Os pombos se esbaldaram com o banquete inesperado, mas
também se agitaram com a confusão. Pessoas começaram a se afastar.
E a ruiva? Já estava ali do nosso lado, olhando toda a cena
sem entender nada. Nokoko, com a expressão de quem tinha acabado de encontrar o
amor da vida, nem desconfiava de nada.
Entre um pigarro e outro, consegui falar:
— Nokoko... essa aí não dá pra levar, não. Essa é minha
noiva.
Dois segundos de silêncio e depois: gargalhadas. De nós
três. Nokoko ria sem parar, balançando a cabeça, e minha noiva, depois de
entender tudo, entrou na brincadeira:
— É, Nokoko, acho que sua mãe vai ter que se contentar com
outra lembrança...
Aquela manhã na praça virou uma das mais divertidas do
feriado. Nokoko nunca mais deixou de brincar com a história da “ruiva de
branco”. E eu? Nunca mais comi pipoca na praça sem lembrar do dia em que quase
fui nocauteado por um comentário e meia dúzia de grãos de milho.
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