domingo, 10 de junho de 2012

Feriado III - A praça da Matriz.

Era o terceiro dia de um feriado prolongado, desses que chegam como presente. Minha ideia era simples: descansar, receber amigos e encerrar com um bom churrasco no domingo. A chuva, que havia castigado a quinta e a sexta-feira, finalmente deu uma trégua, e eu decidi aproveitar o sábado para mostrar a cidade ao meu grande amigo Nokoko.

Ele tinha vindo de longe, rodado muitos quilômetros para nos visitar, conhecer meu cantinho no mundo e, claro, ser apresentado à minha noiva. Como o tempo ruim nos manteve reclusos, passamos os primeiros dias no aconchego do lar, entre pizzas, pipocas e maratonas de Supernatural. Rimos tanto que parecia que tínhamos voltado no tempo.

Mas o sábado amanheceu com sol, e com ele veio a vontade de sair. Resolvemos almoçar fora e, de quebra, fazer um tour pela cidade. Nokoko e eu temos essa conexão musical que atravessa os anos, então fizemos o passeio cantando alto dentro do carro, como dois adolescentes empolgados com os clássicos do rock.

Fui guiando e apresentando: a prefeitura, o parque, o Mercado Municipal. Quando chegamos à praça da matriz, resolvi estacionar. Descemos, caminhamos um pouco e nos sentamos num banco. O clima estava perfeito. Crianças correndo, famílias aproveitando o dia, vendedores animados... aquela alegria simples de cidade pequena em dia de sol.

Nokoko quis provar algo típico e saiu para comprar uma pipoca com queijo. Enquanto isso, fiz uma ligação — queria preparar uma surpresa para ele. Detalhe importante: apesar do nome exótico, Nokoko não tem nada de oriental. É um típico alemão: baixo, forte e de olhos azuis. O apelido vem do tempo em que éramos rádio-amadores, e ficou.

Ele voltou com a pipoca, elogiando a cidade, encantado com a tranquilidade. Ficamos ali, jogando pipoca para os pombos, conversando sobre a vida, quando eu pedi que ele esperasse só mais um pouco. A surpresa estava chegando.

Foi então que ele ficou sério, apertou meu braço e apontou para uma mulher que vinha caminhando na nossa direção:

— Tá vendo aquela ruiva de branco? Essa é a lembrança que minha mãe adoraria que eu levasse pra casa.

Olhei. Engasguei. Soltei um ruído estranho, seguido de uma tosse desesperada. A pipoca voou. Nokoko, assustado, tentou me ajudar com tapinhas nas costas. Os pombos se esbaldaram com o banquete inesperado, mas também se agitaram com a confusão. Pessoas começaram a se afastar.

E a ruiva? Já estava ali do nosso lado, olhando toda a cena sem entender nada. Nokoko, com a expressão de quem tinha acabado de encontrar o amor da vida, nem desconfiava de nada.

Entre um pigarro e outro, consegui falar:

— Nokoko... essa aí não dá pra levar, não. Essa é minha noiva.

Dois segundos de silêncio e depois: gargalhadas. De nós três. Nokoko ria sem parar, balançando a cabeça, e minha noiva, depois de entender tudo, entrou na brincadeira:

— É, Nokoko, acho que sua mãe vai ter que se contentar com outra lembrança...

Aquela manhã na praça virou uma das mais divertidas do feriado. Nokoko nunca mais deixou de brincar com a história da “ruiva de branco”. E eu? Nunca mais comi pipoca na praça sem lembrar do dia em que quase fui nocauteado por um comentário e meia dúzia de grãos de milho.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar. Seu comentário e opiniões são muito importante para melhorar o blog.Se não quiser deixar... Fazer o que...